sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Breve relato de quando senti muita raiva na corrida.

Foi terça- feira passada. Por volta de 6:30 e 7:30. Não sei ao certo se foi fruto de uma tpm descontrolada ou se é algo que toda pessoa que corre já experimentou um dia. Só sei dizer que senti pela primeira vez muita raiva de algo que eu só sentia amor. Aconteceu que por duas vezes eu experimentei a incrível sensação de correr 10 quilômetros. 

Na primeira vez, dia 31 de dezembro de 2018, foi por uma brincadeira, sabe? Meu marido tinha entrado em um desafio do aplicativo de corrida chamado strava com o intuito de ganhar um troféuzinho. Então na noite anterior ao dia 31.12 ligamos pra um amigo, Flávio, e chamamos ele para correr. Por brincadeira eu disse para Tiago, meu marido, que faria isso com ele. Mas sabe quando você fala algo da boca pra fora? Era brincadeira, cara. Antes de raiar o dia confirmamos a presença do nosso amigo, tomamos um café bem leve, colocamos nossos apetrechos de corredores nutela e saímos. Quando chegamos na litorânea, o local em que corremos aqui em São Luís - MA, estava completamente entupido por causa da "Corrida da Virada", nossa rota de fuga foi ir pra outra ponta ou até a metade da litorânea para conseguirmos uma vaga. Assim que descemos do carro Tiago vira pro nosso amigo e diz: "Ei, Flávio, hoje vamos fazer 10k". Ele arregalou o olho e disse "Eu não consigo! Mas sabia que eu prometi que faria 10 até o final de 2018." Aí foi eu quem falei: "Então você só tem hoje, meu amigo! Bora fazer esses 10k?" Ficamos os três nos olhando e sorrindo...(o começo)

Acredite se quiser, mas os meus primeiros 10k foram fruto disso. Eu não sei se eu fiz pra ajudar nosso amigo, por causa de Tiago que queria ou por mim. No fundo e com certeza eu queria dizer pro meu corpo que eu também era capaz de fazer aquilo independentemente do tempo.

 Comecei em passos lentos ali do lado deles, poucos minutos depois ele seguiram mais rápidos e eu fiquei sozinha.  Exceto pela música que ressoava no meu fone e pelas centenas de pessoas ao meu lado por causa da "Corrida da Virada". Como que a gente consegue se sentir sozinha estando rodeado de uma centena de pessoas? Eu vos digo: correr é uma solidão tão prazerosa que você desejará sentir isso todos os dias. Afinal, no fundo, cada quilômetro percorrido é só você, as suas duas pernas, e a sua mente. Você lutará contra sua própria fraqueza com unhas e dentes. Você respirará ofegante e desejará o final de algo que você pode parar a qualquer momento. Basta querer, sentar e parar.

 Ocorre que nesse milésimo de segundo sua mente fica gritando: "Você consegue, você consegue, você consegue." mesmo as suas pernas dizendo que não. E eu geralmente ainda lembro de um trecho de um livro em que um ultramaratonista disse que pensava durante as corridas dele: "É só mais um pé na frente do outro até o final". E assim eu fui indo, 1km, 2km, 3km..depois que chegou nos 5 km em que eu já era habituada a fazer virou desafio para mim. 

Então eu não queria ficar olhando meu relógio que marcava os quilômetros para não desconcentrar. A música nos meus ouvidos? Eu literalmente nem escutava, parecia que tava ali, mas se você me perguntar eu nem sei dizer se descarregou ou se ficou ligado o tempo inteiro. A gente fica concentrado, até pensa em muitas coisas da vida, mas a gente quer terminar, quer saber que consegue fazer aquilo. Mantinha o foco e só corria, andava as vezes de modo mais rápido e corrida de novo, assim eu ficava ligada nas placas indicativas da corrida oficial ali do lado.

 Quando FINALMENTE eu avistei a plaquinha de 8km eu estava morta de sede. Como você sabe eu não tava participando da corrida oficial e não tinha direito a hidratação. Mas aquele posto de hidratação ali nos 8k tava parecendo água no deserto e parece que era o que eu precisava para concluir os 10k, então, eu não aguentei, eu fui lá em quem estava distribuindo as águas da corrida e pedi um copo. E ganhei 2 com palavras de apoio dos organizadores! Anjos existem! Depois disso eu sabia que iria concluir. E sim! Eu conclui e fui invadida pelo melhor sentimento de todos, a sensação de dever cumprido! Foi ótimo, sempre é.

Depois disso a segunda vez em que eu fiz 10k foi bem parecida mas acho que foi mais emocionante. Era um desafio do meu grupo de corrida em que todos eles fizeram a prova às 05:00 A.M e eu Tiago não fomos porque estava chovendo. Então ficamos nos sentindo mal e resolvemos que faríamos a nossa prova no final da tarde. Quase exatamente igual. Nós dois, sem água, com mosquitos na cara. Depois do 5km eu estava bem porque já acho "normal". No km 7 comecei sentir uma dor terrível na perna esquerda e é nesse momento que começa sua guerra com a mente. Você começa lutar contra o pensamento de parar. Eu literalmente manquei porque a dor era insuportável, mas eu coloquei na cabeça que iria terminar. 

Depois corri, andei, manquei, corri e quando deu o quilômetro 9 eu já tava com esgotamento físico e mental. Então eu corri o último quilômetro inteiro e quando meu relógio tremeu indicando que eu tinha terminado os 10km eu chorei. Eu nem acreditei que tava chorando. Parece uma emoção tão boba, mas é tão especial. É como se sentir vivo. É lógico que estamos vivos. Mas você já se sentiu literalmente vivo? Eu te desafio, tente experimentar essa sensação. Não importa em quanto tempo você termine, é clichê, mas só é necessário que você faça e experimente.

Agora você ainda lembra do que eu ia escrever? kkkkkkkk Da minha raiva. Era um breve relato que virou longão de texto. Acontece que a raiva envolve tudo isso que expliquei acima. Em virtude da conclusão desses 10 km eu recebi um certificado da milhas em que eu passei do grupo iniciante para o grupo intermediário. E esse grupo intermediário faz 30 km por semana. 

Pois bem, retomando, foi terça- feira passada. Por volta de 6:30 e 7:30 quando Carenina, professora, pediu que eu fizesse 2 km leve. Fiz e voltei em torno de 17m. Então ela pediu que eu fizesse 5km forte. Então eu já fiquei assustada. Porém, como uma boa aluna eu fui lá e fiz. E foi aí que eu fiquei profundamente zangada. 

Minha gente, zangada mesmo e ficar com cara emburrada. O motivo? Meu tempo tinha sido péssimo, eu sabia que ia chegar atrasada no serviço e tava sentindo aquela dor insuportável do segundo 10km na perna esquerda. Lembra? Então eu disse para Tiago que eu não queria ser uma corredora profissional e muito menos queria ficar "me acabando" daquele jeito. Pela primeira vez eu senti raiva no lugar do prazer. E foi chato. Olhando hoje com a cabeça mais fria me pergunto se isso não é uma reação natural do corpo a qualquer mudança. Principalmente para o nosso crescimento. Sim, a Carenina sabe que eu não quero ser uma corredora profissional mas tenho plena consciência que ela quer tirar o melhor de todos os alunos dela. E eu faço parte desse grupo. Então, o mínimo que eu posso fazer é dar o melhor de mim. E eu ainda quero correr 21 quilômetros em Fernando de Noronha.


2 comentários:

  1. Karoline, acho que vc acertou na 2a opção, mudanças sempre envolvem grandes desafios e o seu corpo está se adaptando. Vem 21k em Noronha! Beijinhos!

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  2. Hahahahahahah tu é muito mongol, cara. Um vez me disseram "Alexia, o difícil não é chegar no topo, o difícil é se manter lá", ou seja, é uma escala.. uma hora a gente vai tá bem, outras não e tá tudo certo. Só não podemos é parar que querer subir sempre, mesmo sabendo que não vai ser toda vez que teremos sucesso. Beijos e te amo :)

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